sábado, 3 de maio de 2008

ILUSÕES

Sonolento o velho mágico teimava no seu viciante esconder de lenços coloridos na mão fechada e no tirar moedas de trás das orelhas, num agradável e cadenciado um dois três e voilà. Tirar coelhos da cartola e serrar mulheres parece fácil e óbvio! demasiado óbvio para quem se habituou à crueza da realidade. Esta crueza descasca-o, ilude-o, disseca-o, ameaçando extorquir-lhe toda a sua magia, quando sentado nos desconfortáveis bancos da plateia da vida teima em não se resignar à sua humilde condição.

Um...
Levitamos
sumimos na ilusão quotidiana e corriqueira de um bem querer e não ter.
Esquecemo-nos dos nossos movimentos mágicos
de um prestidigitador dar sem receber.

Dois...
Escuta a Vida!
Esta é a corrida de quem se deixa levar
Na corrente de sabedoria,
dilacerado pelos sonhos que Ela,
insinuante e provocadora,
nos saberá segredar.
Saber escutar.

Neste esconde, resconde... na suave cadência do teu mágico acreditar
Dessa cadeira dura a tua alma vai levitar!

Três...
Desperta! No cruzar desta porta serás feliz:
Do lado de lá, um outro mundo de tudo-ou-nada te espera e aliciaNo apaixonante e apaixonado aceitar-se Que por tanto amor revolver, inibria.

Voilá...
E, naquele transe do cansaço de tanto desesperar, nesse transe do desejo de tudo consolar...
O pano cai...
E a quente cortina de veludo vermelho ondulante nos envolve e seduz.
Deixemo-nos enrolar
Na feliz inocência de iludidos nada procurar e tudo encontrar.

Postado por Ela e Pedro

sábado, 23 de fevereiro de 2008

PALAVRAS PERDIDAS

Perdi-as...
Quem as deixa cair nem sempre se apercebe. Este ás de trunfo, capricho que só a nós nos é permitido.

Perco-as todos os dias...
Quando minto, naquele engano prepositado de quem passa a rasteira a si próprio, atrapalhando-se e afundando-se nas próprias incertezas.

E perco-me!
Perco-me na ousadia de quem pensa que com piruetas e artimanhas consegue a tua atenção. As expressões expectantes e o "ahhhh" de espanto acompanhado de rufos de tambor confundem-me. Eu que sou tão só alguem que, tantas vezes, se dobra e estica para receber atenção. Eu que sou um mero ser humano fingidor.

Mas guardá-las para quê?
Quem as inventou que as salve, pois quem, como eu, as reinventa todos os dias, vai perdendo de vista a importância que é segurá-las como se segura um acrobata à sua rede. Não me falte rede para me perder....

Perdi-as...
Quando flexíveis se moldaram e fluiram pela minha boca, naquele recanto de maldade que não sei assumir. Naquele sim traidor de um desamor que não soube conter. Melodia para os teus ouvidos que nenhum de nós sabe se alguma vez me quiseram ouvir.

Perdi-te...
Porque não sei de mim quando tais coisas me saem da boca, quando te firo e te julgo e te canto este "sim" que não é amor nem ódio, pobre sentimento híbrido de egoísmo e necessidade, ópio que adoça a boca numa tortura prazerosa.

Perdi-as...
Na timidez de nunca tas ter dito. Naquela inocência perdida de quem, ingénuo, se ilude nos seus sonhos. Naquele silêncio mudo que de certeza te ensurdeceu a alma! Bem o sabemos, nunca teria que tas ter dito para que, se tivéssemos querido, as conseguisses entender.

Perdi-me, sem querer.
Ou não fosse eu este homem que desesperado tenta ser Humano.Ou não fosse eu guardar na minha Lama o único tesouro que tenho e que é inteiramente teu. Não tivesse eu medo que não Lhe desses o devido valor, não fosse ele realmente valioso.

E perdemo-nos os dois
Porque esta miserável riqueza teima em brilhar dentro de nós e a seduzir-nos, irradiando-nos contudo porque ainda penamos, presos ao nosso orgulho e cegueira.
Desenharam-nos seres frágeis sonhados para a perfeição, que empunham armas poderosas e difíceis de manusear.

Falamos de tal forma incompleta, inconscientes semeadores de ideias inacabadas...

E as palavras, essas...
Testemunho de vida!
Caem-nos aos pés, calcadas pelo nosso peso...
São só palavras...
Palavras perdidas, estilhaços arrancados à nossa alma, que quando dispersos, nunca saberemos reencontrar...

Escrto por Ela e Pedro

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

ESCUTA O VENTO

Acordei mole e triste, sem vontade de nada fazer. Acomodado ao que tenho, recostado nas gotas da chuva que, pela janela, teimo em escutar batendo na janela vindas deste céu limpo.

Sei que este é o dia, sei que tudo me bate à porta com uma urgência a que não posso deixar de responder e contudo moleza! Destas cobardes que se entranham e imobilizam.
Falta-me coragem... Não me interressa muito se minha, tua ou Dele. Fazem-me falta os rostos alegres de quem se dá e luta. Não tanto os seus sorrisos pois que dizia a uma amiga que cada lágrima que assuma aceitar por uma causa nobre é um mar de esperança que desabrocha no coração de alguém. Antes a alegria do olhar corajoso de quem pergunta "Que queres de mim?"

A vida é uma luta, – sei-o todas as manhãs ao acordar, mas sobretudo, tenho-a como minha. Comigo mesmo e ciente de que perdurará até que me vença, tornando em aliados, todos meus medos e incertezas.

A vida é esta luta,- sei-o a todas as noites ao adormecer, mas sobretudo, tenho-a como t(T)ua. Contigo mesma, ciente de que na sua vitória nos unirá, fazendo de cada erro oportunidade renovada de reconciliação e perdão.

Há que reagir e corro para o chuveiro, na esperança de que toda aquela água caindo em cascata sobre mim, me varra desta moleza, retempere as minhas forças e me renove. Quase sempre resulta, ainda que superficial e temporariamente.

Estou pronto para enfrentar o novo dia. Redescubro esta coragem que me invade sem me pertencer. Sim!... viverei um dia de cada vez... Mas hoje – nem que seja só por hoje, – decido ajustar-me à realidade em vez de a desejar ajustar a mim mesmo, a deixar que as respostas me encontrem antes de as tentar descobrir por entre tantas altercações.

Porque esta sim! Esta é a minha coragem interior. Aquela de aceitar sereno que pouco posso e pouco depende de mim. De reconhecer a cada passo que dou, que é a Vida que corre sob os meus pés. E de saber que a cada viragem que a minha liberdade me permite tão só redescubro novas duvidas e encruzilhadas.

"Já alguém viu o vento?" – Antes de fechar a porta atrás de mim, contesto: hoje quero vê-lo!

Só assim vejo que como tu, também eu sou rio rebelde que segue o seu curso, animado por esta força que ingenua brota do meu sangue e prudente me reflui pela alma, num remoinho de "ses", "mas" e "talvez" que, bem o sabes, nos ultrapassa.

Contudo, mantendo-nos unidos à verdadeira Fonte, não derivamos jamais. Imagina, corajosa timoneira... Assumires a loucura de, no meio da tempestade, te deixares s ubmergir neste S(t)eu mar, sabendo que duvidando da rota correrás segura, guiada pela força da corrente. Esta corrente, que de tão revolta e indomada, é capaz de derrubar todos esses muros que te cercam, libertando-te e dilatando-te em novos horizontes de luz.

Porque ai sim... Por onde quer que vás... Mesmo sem saberes muito bem o destino, espalharás no teu caminho alegria e paz.Sabes? Não importa que não chegues nunca a ver o vento. Quem sabe se não é ele quem te sopra a coragem? É preciso, é que todos os dias queiras vê-lo.

Posted by Malu e Pedro

domingo, 1 de julho de 2007

DA RIQUEZA E DA FÉ

Os nossos dilemas, as nossas dúvidas, as nossas incertezas, não são mais que um desafio do espírito que teima em nos espicaçar para não nos transformarmos em seres adormecidos. No desfilar apressado de vaidades, de conversas vazias, é fácil cair inadvertidamente na tentação da não-reflexão, do não-questionar, da corrente que nos rouba tempo, esse bem precioso, oferecido e muitas vezes desaproveitado.

O maior obstáculo à concretização de projectos de vida, a razão de todas as crises, é a desmotivação, a intranquilidade de andar à deriva, sem encontrar retribuição ao mais genuíno dos sorrisos. Mas, apesar de desilusões ou decepções... há que manter a perseverança da entrega. Confiar que no Outro reside uma riqueza a descobrir. Ai renascerá o sonho, a Fé e a Esperança próprios de quem, moribundo, ousa amar a vida, levantar-se e andar!

O desafio de reconhecer o absoluto do "outro", aceitar feliz que é quando perdemos o pé e deixamos de ter a segurança na nossa experiência existencial e egoísta, que é no dar-se a troco de um hipotético e mais que provável nada (por ser sempre absolutamente dependente da vontade incoercível e única do outro dar-se a troco de nada) que melhor nos apercebemos e valorizamos o profundo valor da nossa própria existência. Isto numa viagem de contornos caóticos que a única segurança que nos dá é aquela que no nosso ligamento suspensor tão bem conhecemos de termos de cair para que nos saibamos levantar.

Por isso, muitas vezes, ainda que dê por mim a sucumbir, quando me levanto, a revoltar-me contra a minha fraqueza que me faz cair, preciso de mergulhar e trazer à superfície os valores, as convicções, a Fé, que me mantém vivo, desperto e autêntico, os alicerces da identidade, que me permitem ir construindo, com lealdade, a escada da minha Vida.

Precisamos de Força! Desta que de tão humana tantas vezes se esvai... de coragem para permanecer de mãos firmemente atadas ao leme das nossas vidas! Indiferentes ao clima, fieis à rota que dia a dia se vai trilhando. Cheios de Fé! porque a Fé é mesmo isto, acreditar e confiar no Bem maior sem que se consiga demonstrá-Lo aos outros, e por vezes a nós próprios.

Posted by Mané e Pedro

DUALIDADES

Inauguro este espaço que não é só meu...
Onde escreverei, sempre a dois, desafiando alternadamente amigos e amigas que caminham comigo, comunhão de percursos.